Desde que eu me entendo por gente, eu sou feminista. A dimensão desta condição e o chamado para a luta das mulheres pela igualdade, demorou um pouco mais para chegar na minha vida, mas, quando veio, eu não fugi, eu fui, permaneço e morrerei no movimento.
Eu advogo majoritariamente para mulheres e para população LGBT+, na região do Grande ABC. Nosso escritório de advocacia é precursor no atendimento à esta população,inovando na atuação com as pautas relativas às minorias. A esta luta, nos unimos com advogadas negras, que somam em seus objetivos outras lutas, como o combate ao racismo, o reconhecimento da intelectualidade negra e suas raízes africanas.
O grito é muito mais forte para essas mulheres. Através delas, compreendi que a realidade social só muda com a ascensão da mulher negra, um dos ensinamentos de Amarilis Costa, advogada, ativista e homenageada por mim e pela Fernanda Darcie, minha sócia e companheira de luta diária, com um manto da admiração vindo diretamente do Senegal (e comprado na República). Amarilis é uma das ativistas e militantes negras mais importantes da atualidade e o manto foi um presente conseguido no bairro com o maior índice de imigrantes africanos em São Paulo.
Foi também com essas mulheres de luta que aprendi que os povos africanos, com signos, traduzem em seus tecidos rituais, sentimentos, comemorações e dizeres. Toda essa concepção conduz a uma forma de expressão única, tão emocionante quanto à ocidental. Foi da África que o Brasil herdou cores e significados.
Sem muita expectativa, eu e Fernanda nos inscrevemos no processo seletivo online do Instituto Avon, para sermos contempladas com uma das bolsas de estudo fornecida pela empresa, para participar do 24º Seminário de Ciências Criminais do IBCCRIM. Não teríamos condições financeiras para “bancar” o Seminário, por isso, ver nossos nomes escritos na seleção foi a realização de um sonho e contei com o apoio da PEITA para vestir um ideal. Fui para o Seminário de “Produza Como Uma Garota” e eu não esperava a dimensão que esta frase tomaria naquele momento.
Inúmeras mulheres desconhecidas pediram para tirar foto comigo, comentaram que adoraram a ideia de vestir um sentimento, um grito inflado por todas aquelas vozes femininas que encontrei. No evento encontramos uma das mulheres que admiro profundamente, Dra. Kenarik Boujikian. Pedimos para tirar foto com ela e foi quando ela me disse: “Eu julgo como uma garota”. Ela é desembargadora do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e possui um histórico de luta e grandeza que são amplamente reconhecidos.
No Seminário tive a oportunidade de conhecer também a Amelinha Teles, militante da época da Ditadura Militar, que foi presa com seu marido e seus filhos (com 4 e 5 anos, à época), que foram usados na tortura. Mas essa é só uma parte da história desta mulher de tantos êxitos, que lidera grupos de apoio e instrução para mulheres, especialmente às que são submetidas à violência. Consegui uma foto com ela e chorei de emoção.
É impressionante vestir uma ideia surgida de um movimento. Somos todas garotas em diversas lutas, mas todas impávidas, incansáveis, para que todas as meninas que estão para nascer vivam uma realidade na qual não tenham que enfrentar questões já superadas por nós e pelas gerações passadas.
Todos os dias eu penso que sou um instrumento para esta luta para que nenhuma garota sofra com relacionamentos abusivos, receba salários menores, seja vítima de agressão física ou das demais violências às quais as mulheres são diariamente submetidas.
A postura combativa já é uma realidade na minha vida, da qual não consigo mais me desvencilhar. Se queremos ser ouvidas, nosso grito tem que ser potente, devemos ocupar lugares jamais pensados e naturalizar nossas imagens neles.
Eu agradeço imensamente as garotas da PEITA pelo apoio e pelo ideal compartilhado, vocês são geniais. Obrigada. Avante.
Fotos: Alice Vergueiro
2 comentários
Simplesmente MARAVILHOSO !
Parabéns!
E que Deus esteja sempre à frente conduzindo vcs nesse caminho que é tão importante para a sociedade, especialmente nos dias atuais em que tanto necessitamos de pessoas como vcs! Obrigada.