foto preto e branca da jéssica, mulher branca, com cabelos castanhos claros, lisos, compridos, com um colar com pingente retangular, parada em frente a uma sacada, com mamilos cobertos com coração

CARA PESSOA MAGRA: QUE TAL SER MENOS GORDOFÓBIA? por Jéssica Balbino

Que atire o primeiro quilo quem nunca parou na frente da amiga gorda e enfatizou que tinha pavor de ser como ela

 

Cara pessoa magra, hoje meu texto é para você. Sim, você mesma que, em algum momento da sua vida, parou ao lado da amiga gorda e em frente ao espelho, segurou a barriga inexistente e disse: “ah, eu preciso muito emagrecer, estou horrorosa”. Sim, você mesma que em algum momento disse: “eu preciso parar de comer, meu maior pavor é ficar gorda”.

É sério que você, em nenhum momento, pensou que isso poderia ser violento com a sua amiga gorda? Você jura que acreditou que tudo bem dizer, (in)diretamente que ela é horrorosa por causa da sua forma física? Você tem certeza que achou que era OK dizer para sua amiga gorda que seu maior medo era, veja só, ser como ela?

Além de insensível, claro, esse tipo de fala/ frase/ atitude é gordofobia. E a gordofobia não só machuca, como pode matar. E não sou eu que estou falando isso. Uma pesquisa da Sciense Mag discute o tema amplamente. Você pode ler aqui.

 

E a gordofobia não só machuca, como pode matar.


Veja só, estamos em 2022 e não dá mais pra dizer que gordofobia é mimimi ou que é um tipo de bullying que “nunca matou ninguém”. É urgente que você, pessoa magra, tome partido na discussão e pare de tapar o sol com a peneira, de justificar o preconceito através de possíveis compulsões, de fingir que isso não acontece ou de continuar no alto do privilégio, seguindo a própria vida e reproduzindo, de forma consciente, uma opressão.

Eu sei, eu sei. Sempre foi fácil criticar a cantora sertaneja por estar ‘acima do peso’, ou dizer pra sua melhor amiga, que tá sempre lá pra você, que você tem pavor de ficar como ela ou que ela não representaria uma ameaça romântica a qualquer pessoa, já que ninguém se interessaria por ela.

Sempre foi cômodo ter alguém para validar a infelicidade que você sente toda vez que vai à academia ou se sente obrigada a contar as calorias do prato lowcarb.

Só que não dá mais.

É preciso que pessoas magras se responsabilizem pelo seu comportamento destrutivo e violento com as pessoas gordas. Ou você banca sua gordofobia, assumindo-a e tendo plena convicção de que você está arrasando com a autoestima, provocando transtornos e acabando com algumas vidas ao seu redor, ou você para imediatamente com ela.

 

É preciso que pessoas magras se responsabilizem pelo seu comportamento destrutivo e violento com as pessoas gordas.


E não adianta usar pessoas gordas como ‘fatpedia’ exigindo informações sobre como você deve se comportar para não ser uma pessoa opressora ou escrota. O tema é pauta e debate há muitos anos. Eu mesma, escrevo com frequência sobre e no #putablog tem vários textos meus acerca do tema. É só ter vontade de pesquisar. Não podemos ter, em 2022, num mundo pandêmico, mais essa responsabilidade de educar pessoas magras sobre seus comportamentos destrutivos com a nossa existência.

Outro ponto urgente é: não dá mais pra justificar seu comportamento opressivo com o discurso da saúde. Fato é: ninguém está preocupade com a saúde alheia. Se estivéssemos, usaríamos máscara na pandemia, doaríamos sangue, medula óssea e não bestializaríamos corpos gordos e celebraríamos corpos magros - ainda que estes não tenham tanta saúde, mas aparentem ter, já que agradam as balanças e padrões.

 

não dá mais pra justificar seu comportamento opressivo com o discurso da saúde. Fato é: ninguém está preocupade com a saúde alheia.



Em algum momento você vai se/me perguntar: então quer dizer que não pode mais querer ser magra?

Antes de te acusar de desonestidade intelectual é: claro que pode. A pessoa pode ser o que ela quiser, óbvio. O que não dá é para ter a magreza como o único sentido de vida possível. Definitivamente, não dá mais.

Mas, já que tocamos no assunto da liberdade, podemos usar a retórica e perguntar: quer dizer que ninguém mais pode ser gorda?

Da minha parte, eu espero que você possa ser, neste ano de 2022, tudo que você quiser, inclusive gorda. E que seja, por favor, mais empática e menos gordofóbica.

 

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foto colorida da jessica, mulher branca, cabelos castanhos claros, médios, lisos, vestida com uma camiseta preta com a frase lute como uma gorda em branco. Está olhando o celular.

Jéssica Balbino é jornalista e produtora cultural. Escreve sobre literatura fora do hype e sobre corpos dissidentes. Estuda psicanálise. Curadora de eventos literários em todo país. Autora dos livros "Hip-Hop - A Cultura Marginal", "Traficando Conhecimento" e “gasolina & fósforo - meu corpo em chamas” (no prelo).  Psicanalista em formação.

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