Direitos Sexuais e Reprodutivos das Mulheres Com Deficiência, por Carol Constantino

Direitos Sexuais e Reprodutivos das Mulheres Com Deficiência, por Carol Constantino

Você já ouviu falar sobre os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres?
Não!? 

:: DIREITOS REPRODUTIVOS

• Decidir, de forma livre e responsável, se querem ou não ter filhas/os, quantos e em que momento de suas vidas;
• Acessar informações, meios, métodos e técnicas para ter ou não filhas/os;
• Exercer a sexualidade e a reprodução livre de discriminação, imposição e
violência;
• Exercer a maternidade, com a atenção adequada e apoio necessário na
gestação, parto, puerpério e criação de filhas/os;
• Escolher pela interrupção da gestação quando ela for indesejada ou não
planejada.

:: DIREITOS SEXUAIS

• Viver e expressar livremente a sexualidade sem violência, discriminações;
• Escolher a parceria sexual;
• Viver plenamente a sexualidade sem medo, vergonha, culpa e falsas crenças;
• Viver a sexualidade independente de estado civil, idade ou condição física;
• Escolher se quer ou não ter relação sexual;
• Expressar livremente sua orientação sexual;
• Ter relação sexual independente da reprodução;
• Sexo seguro para prevenção da gravidez indesejada e de DST/HIV/AIDS;
• Serviços de saúde com privacidade, sigilo e atendimento de qualidade e sem
discriminação;
• Direito à informação e à educação sexual e reprodutiva.

 

Parece óbvio que toda mulher possui esses direitos e pode escolher livremente se quer ser mãe ou não, se quer usar métodos contraceptivos ou não, se quer ter relações sexuais ou não... São escolhas tão simples, mas que acabam não sendo tão simples assim para as mulheres com deficiência.

Digo isso porquê sou uma mulher com deficiência e também vivo nessa sociedade totalmente capacitista e preconceituosa, onde a maioria nos enxerga de forma infantilizada, acreditam que não somos experientes o bastante para sabermos fazer nossas próprias escolhas e acham que sabem o que é melhor para nós. 

Muitas pessoas pensam desta forma e, sem perceber, acabam "se metendo" na vida das mulheres com deficiência, julgando suas decisões, escolhendo por elas e até mesmo criando opiniões baseadas em nada, sem nem ao menos conhecer a realidade de cada mulher. 

Essas "opiniões" prejudicam muito nossas vidas e basta ser uma mulher com deficiência para escutar frases do tipo: "mulheres cadeirantes não devem ter filhos. Como que elas vão cuidar de uma criança?"... "Mulher cadeirante é mais difícil casar, porque ela não consegue nem fazer o serviço da casa...".

Porém, além destes comentários, também somos vítimas da falta de informação e preconceitos vindos de grande parte dos profissionais da saúde, principalmente ginecologistas, que, ao invés de esclarecer dúvidas sobre assuntos relacionados à sexualidade e reprodutividade, acabam não estudando as diferentes patologias, passando informações totalmente erradas, ou, ainda, não se preocupam em ter seus consultórios médicos acessíveis para atender as mulheres com deficiência. 

Já cansei de ouvir relatos de mulheres com deficiência que deixaram de fazer os exames por terem sido constrangidas e humilhadas pela falta de preparo nestes locais - eu também já passei por isso. 

É claro que não devemos generalizar, mas, infelizmente, grande parte destes profissionais interferem em decisões que podem mudar completamente nossas vidas. Como no caso de uma amiga que ouvi uma vez... ela é muletante e, quando era jovem, sua médica ginecologista sempre a informava que ela não teria capacidade de aguentar uma gestação. Um tempo depois, ela teve uma gravidez não planejada e preferiu não abortar sua filha, pois já estava de 4 meses. Acontece que se ela tivesse descoberto meses antes, por orientação da sua médica, ela teria interrompido a gravidez. Hoje ela está feliz por não ter dado ouvidos a sua médica, pois sua filha já completa 7 anos e sua gestação correu perfeitamente bem.

Eu mesma cresci escutando todas essas coisas e, sem perceber, já estava concordando com estas ideias e pensando da mesma forma. Porém, depois de estudar sobre o assunto e conversar com outras mulheres com deficiência, fui percebendo que isso acontece com todas e que estes pensamentos não eram meus, mas, sim, eram as opiniões dos outros que estavam sendo impostas a mim! 

É claro que nem toda mulher realmente pode engravidar, ou, que por motivos de saúde, não deve utilizar certos anticoncepcionais... Mas existem muitas mulheres com deficiência que são mães, outras simplesmente não querem ter filhos, escolhem livremente seus (suas) parceiros (as), fazem uso de anticoncepcionais, fazem suas próprias escolhas, sem deixar que a opinião e preconceito de outras pessoas interfira. 

Por isso precisamos sim falar abertamente sobre a sexualidade, também devemos falar sobre o nosso direito de escolher e poder usufruir de nossa sexualidade e reprodutividade com liberdade e dignidade. Com certeza não devemos deixar de fazer consultas médicas só pelo fato dos(as) médicos(as) não serem capacitados(as) para nos atender, na realidade, precisamos reivindicar nosso direitos e mostrar que existimos!


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Não deixe de acessar e conhecer a cartilha informativa do grupo de mulheres com deficiência - Inclusivass.

 

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Carol Constantino é estudante de Serviço Social, blogueira e cadeirante desde pequena, pois nasceu com atrofia muscular. Em seu blog ela compartilha tudo que diz respeito aos cadeirantes e outras deficiências. Além de postar também, histórias de outros cadeirantes do Brasil inteiro. Siga no INSTAGRAM , curta sua página no FACEBOOK e acesse o BLOG

carol constantino

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Ilustração "Autoretrato" de Paloma Santos. Siga ela no instagram @partes.art

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2 comentários

Realmente é um absurdo a ipocresia da sociedade em relação a mulheres com deficiência que engravidam ,eu conheço uma pessoa que usa moletas hoje ,pois teve pararalesia infantil ,foi caderante ,eu há vejo como uma grande guerreira casada mãe de um casal ,que enfrentou todos os preconceitos e venceu, além de sua condição física ainda tinha a condição,racial e sócio econômica que era precária, mais nada fez ela desistir do sonho de ser mãe, seu filho mais velho tem 19 anos ,a menina 14 anos ,os dois junto com o marido cuidam dela com muito carinho são uma família linda ,com alguns problemas como toda família claro ,mas juntos venceram o preconceito,e são exemplos de vida

Lucia Moreira

Gratidão <3

Carol Const.

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