Ilustração Paloma Santos.
Capacitismo é algo tão errado que até o corretor ortográfico quer corrigir.
Capacitismo é o preconceito exercido contra pessoas com deficiências e que, de forma velada ou não, usa palavras que fingem elogiar ou incentivar alguém que possui uma deficiência mas faz exatamente o oposto.
O capacitismo nega a capacidade de uma pessoa com deficiência, infantilizando, subjugando e menosprezando o fato de que ela é perfeitamente capaz de responder por seus atos. É dizer:
“Nossa, mas você fica sozinha?”
“Mas você trabalha.”
“Por que não se aposenta logo por invalidez?”
“Parece milagre que você consiga fazer isso.”
Está em atos como ir a um restaurante e o garçom se dirigir apenas a quem não tem deficiência como se somente essa pessoa fosse adulta. Está no tapinha em cima da cabeça que levamos quando dizem que somos bonitinhas, que “somos tão jovens e já passamos POR ISSO” e, no caso, isso a que se referem é a vida, é a adaptação, é o cotidiano, mas que pra elas é sinônimo de sofrimento, tortura, amargura...
Capacitismo é quando dizem que quando pensam em reclamar da vida, lembram da gente! Vou repetir aqui: QUANDO PENSAM EM RECLAMAR DA VIDA, LEMBRAM DA GENTE... e eu vou contar um segredo, mas não espalhem: as pessoas com deficiências são seres humanos, tão humanos que às vezes reclamam, se queixam, se chateiam e podem inclusive acordar de mau humor!
E muita gente não fala isso para machucar, mas por não pensar que também passa por dificuldades no seu próprio dia a dia e que passa por situações em que também ultrapassa as adversidades em suas próprias vidas, só que ninguém lhe dá os parabéns por isso.
O capacitismo só vai acabar quando entenderem a importância de falar PESSOA COM DEFICIÊNCIA, para lembrarem que a pessoa vem antes e que a deficiência é só uma característica que pode ser usada para descrever apenas uma parte de todo o universo que nós somos!
Ser cadeirante não é o que me define, é parte do que eu sou. E por favor, independente da sua religião, não fale para qualquer pessoa com deficiência que se ela tiver fé será curada!
As pessoas levaram anos para entender e aceitar que a vida é um inconstante vai e vem de traumas e adaptações. E que não se deve subestimar nem a fé, nem o credo, nem a capacidade de uma pessoa de se aceitar e gostar da vida que ela tem.
Prefiro ter uma deficiência e ser eu mesma do que não ter e ser outra pessoa. Eu gosto de quem eu sou e me aceito.
Eu celebro a luta da pessoa com deficiência não pela deficiência que ela tem, mas pela surpreendente capacidade de lidar com situações e atitudes capacitistas a vida toda, por saber que sua simples existência é uma afronta aos padrões e que isso não é problema algum, muito pelo contrário, é a solução.
Meu ato de protesto é existir. Existo plena e resisto firme quando há inacessibilidade, ignorância, preconceito, capacitismo, machismo e pequenices de gente com pouca informação ou caráter.
Existo pra transformar em canção, pra gritar mais alto que resistiremos! Pra mostrar que nossa luta é pra valer, que somos muito mais do que nos julgam e ainda vamos fazer muito barulho pra dizer: Não vem me capacitar, não sou criança, não sou um anjo, nem sou santa. Sou só uma pessoa que tem o direito de ser o melhor que eu puder pra mim mesma, assim como todas as pessoas, com deficiências ou não.
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Amanda Lyra é cantora, compositora, produtora e apresentadora, cadeirante e idealizadora do Projeto Solyra. Siga ela no FACEBOOK e INSTAGRAM.
Paloma Santos é ilustradora, cadeirante e feminista. "No meu trabalho como ilustradora tento representar a diversidade feminina". Siga ela no INSTAGRAM e curta a página no FACEBOOK.
1 comentário
Eu não conhecia esse conceito .
Preconceito existe, sim senhor!