MEU FILHO BRINCA DIFERENTE, E ESTÁ TUDO BEM por Camila Emerick

MEU FILHO BRINCA DIFERENTE, E ESTÁ TUDO BEM por Camila Emerick

Na primeira vez em que levei meu filho para brincar em um parquinho público, tive que auxiliá-lo em brinquedos que outras crianças da idade dele já brincam sem o apoio de um adulto. Nessa experiência, pude observar que as outras mães ali presentes olhavam-me com ar de reprovação, como se eu fosse a mãe superprotetora que não deixa o filho brincar. E mesmo que eu fosse. Cada um não deveria cuidar do seu filho da maneira que acha certo? Aonde está a tal sororidade que tanto falam por aí... Mas ninguém se aproximou, ninguém puxou conversa, ninguém disse ao filho “vai lá, chama o amiguinho pra brincar!”. E foi nesse dia que eu entendi porque minhas amigas ficam em casa com seus filhos com deficiência, pois chega uma hora que esse olhar desanima. Felizmente Bento tem uma mãe que ganha força com esses olhares e faz questão de ocupar os lugares. Como diz o velho ditado: os incomodados que se mudem. Estávamos no meio de dezenas de pessoas e, ao mesmo tempo, sozinhos. 


Eu achava que mães se entendiam, pois ser mãe não é fácil, mas percebo - a cada dia - que a mãe atípica está ainda mais sozinha.

 

Para mim, a mãe típica também deveria brincar com seu filho, ajudar, sujar-se com tinta (eu vivo suja rsrs), sentar no chão, dançar como se ninguém estivesse vendo. É muito gratificante acompanhar o desenvolvimento de perto. Conhecer cada dobrinha, cada olhar, cada suspiro. Saber dia, hora, minuto e segundo que seu filho fez algo pela primeira vez, comemorar e se emocionar com cada conquista. Sou muito grata por ter essa oportunidade e por querer estar ali brincando. 

 

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Em uma outra ocasião, fomos a uma jogoteca. Éramos os únicos, até que chegaram algumas crianças. Quando Bento se aproximou, elas não quiseram brincar com ele, já que por conta da hipotonia e questões motoras típicas da T21 ele brinca diferente ou não de uma maneira convencional. As crianças podem não entender... mas a mãe estava ali. Qual é o papel dela? Direcionar, conversar e educar os filhos para o diferente. Isso não aconteceu, não foi feito e, na maioria das casas, sabemos, ainda não se fala sobre o assunto. E já passou da hora desses assuntos serem abordados.

 

Muitas vezes, o afastamento ocorre por não saber como agir.

 

Não é feio perguntar, não é errado não saber como lidar. Errado é ignorar o outro, fingir que ele não está ali. E isso é doloroso para a mãe que está com o anseio de ver seu filho, que é apenas uma criança, tentando ser criança. A outra criança é culpada? Não. Na escola, todas as crianças tratam o Bento como a criança que ele é. São os adultos que deveriam aprender com elas.
 
Brincar diferente não é errado. Brincar com ajuda não é errado. Não existe jeito certo de brincar, até porque o importante é se divertir. Bom seria aproveitar o “acervo” da nossa infância e reproduzir com as crianças tantas brincadeiras boas que vivemos e tanta coisa que aprendemos através do brincar.
 
 O que significa brincar pra você?
 Vejam brincadeira em tudo e vamos BRINCAR!

 

 

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Camila Emerick, a mãe do Bento. Mãe atípica solo. Preta! É professora da rede municipal do Rio de Janeiro há 25 anos e atua com Educação Inclusiva. Faz parte do Projeto de Fotografia Documental InvisibiliDOWN - Ensaios sobre o Racismo e a síndrome de Down

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