“Não vendemos feminismo, somos feministas que vendem camisetas”. A frase é da designer e proprietária da Peita, Karina Gallon. A explicação veio por conta dos questionamentos que recebe nas redes sociais. “Nosso posicionamento é bem claro. Tanto no mundo online como offline. Venderíamos feminismo se apenas comercializássemos as camisetas sem mostrar quem são essas mulheres e de que lutas estamos falando".
No dia do assassinato da Marielle Franco a Peita divulgou nas redes sociais a imagem de uma camiseta com a frase: Lute Como Marielle Franco. Não, ela não está à venda. A simulação foi apenas uma homenagem. Quando Karina pensou o conceito da marca-protesto, escolheu um design simples. “Como eu ia fazer o layout, escolhi uma família de fontes que pudesse desdobrar rapidamente. Sabia que faria tudo, que o negócio ia ser meu, então não podia perder muito tempo criando. Queria poder inventar uma frase e ir no outro dia pra rua”. E foi isso que a designer fez após a execução da vereadora, disponibilizou lambes para download. “Que o nome dela ganhe ainda mais as ruas e fique na cabeça das pessoas. Nós não vamos esquecer o que fizeram a ela”.
A marca-protesto, que comercializa ‘peitas’ com dizeres polêmicos, ganhou o Brasil com a frase “Lute como uma garota”. Gal Costa, Manuela D’Ávila, Aíla, entre outras, divulgaram fotos suas com a camiseta. Domingo foi a vez de Tiê dar seu significado a frase. A compositora e sua banda encerraram o show no palco Axe, do Lollapalooza com suas peitas.
Era uma vez…
A peita nasceu para a marcha das mulheres do dia 8 de março de 2017. Sua estreia foi nas ruas. “Comentei a ideia de uma nova abordagem pra discussão do feminismo levando para o cotidiano os cartazes usados pela mulheres mundo a fora na marcha contra o Trump. Uma amiga falou: ‘ótima essa ideia, já quero um modelo de cada camiseta”, conta Karina que espalhou a ideia entre outras amigas próximas. “Quando vi, tinha umas 20 pessoas querendo camisetas estampadas com as frases dos cartazes e pensei que se isso é do nosso interesse, bem possível que seja de mais gente também. Comecei a pensar como um negócio e em quais valores eu construiria essa marca. Decidi o produto: vai ser uma camiseta. Quase todo mundo usa, é um produto que não precisa ser caro. Resolvi então fazer all-type, gigante, com a frase sendo a protagonista do rolê. Temos receptores do outro lado que vão receber a mensagem e torço pra que ela seja o gatilho pra questionamentos sobre o que ela quer dizer e o que ela tá fazendo ali. Eu crio as frases pensando em alguns contextos, mas quando as pessoas vestem ela, elas resignificam essa frase dentro do seu próprio contexto de vida e das suas lutas”, comenta. "Sei que nem todas as pessoas são militantes, mas todas as pessoas querem se expressar em algum momento e eu vejo claramente a camiseta com uma ferramenta pra isso."
A marca-protesto tem por objetivo dar ferramentas para mulheres lutarem contra a opressão do machismo. Assim, a Peita cumpre com a missão de trazer os dizeres do contexto das manifestações para os dias comuns, seja em camisetas, moletons, bolsas, bottons, ímãs, adesivos ou cartazes. Ao todo são 14 dizeres polêmicos. “Pedale como uma garota”, “Toque como uma garota”, “Nunca olhe pra baixo” e “Depois do não é tudo assédio” são alguns dos dizeres que também ganharam as ruas. Idealizado pela designer Karina Gallon, o projeto ainda abraça causas sociais com a co-criação de manifestos. Um exemplo é a parceria com o “Criativos pelo Haiti”, que mobiliza voluntários para desenvolver atividades de cunho humanitário no devastado país da América Central, e os dizeres “Você importa pra mim”, também na versão em crioulo haitiano: “Ou enpotan pou mwen”.
Incentivando a luta inclusive na esfera da arte, “P.U.T.A.” é uma co-criação com a banda feminista curitibana Mulamba, autora da canção cujo título estampa a Peita. Em seus shows pelo país, seja no Circo Voador (RJ) ou no Festival Psicodália (SC), as meninas sobem no palco com suas camisetas que complementam o recado dado em suas músicas. “Mulher, solta tua voz” foi realizada com o Festival Sonora em Curitiba, um espaço de palestras, bate-papos e showcases de compositoras na capital paranaense.
Além de promover debates e ocupações e participar de feiras feministas, a Peita tem um comprometimento social genuíno. “Mulheres à margem resistem” nasceu de uma co-criação com o projeto “Ebulição Marginal”, evento que desde 2013 incentiva o diálogo entre literatura e manifestações artísticas na periferia de Curitiba. Em 2017, primeiro ano de parceira, Karina deu workshop de intervenção urbana, ensinando crianças e adolescentes a fazerem lambe-lambe, stencil, falou sobre o grafitte e a importância político-social dessas expressões urbanas. Em 2018, as garotas do Slam das Minas, de São Paulo, também aderiram a esses dizeres. “O som que nasce delas” foi uma co-criação com o Festival Sonora, em São Paulo, disponível exclusivamente no evento feito por e para as mulheres. “Erguendo-nos enquanto subimos” foi o lema que a “Associação Nacional das Agremiações das Mulheres de Cor” escolheu para si em 1895 e que rege a parceria com a Peita.
A Peita também fechou parceria com a “Casa Nem” e desenvolveu “Meu corpo é político”, cuja parte da produção das peças nas cores da bandeira trans (branco, rosa e azul) é destinada à ONG que atende a população LGBT do Rio de Janeiro. A frase é título de um documentário de Alice Riff, que aborda o cotidiano de quatro militantes trans da periferia de São Paulo. Seu uso foi autorizado pelos autores da obra.
2 comentários
As camisetas mais do que lindas, são fortes! Parabéns pelo trabalho e pela luta. “Só a luta muda a vida”.
Meninas Lindas, que tal mais essa : "Lute como uma professora "! ❤