Dados da Secretaria de Planejamento e Gestão do Governo de Pernambuco mostram que 824 casos de COVID-19 já foram confirmados em Jaboatão dos Guararapes e que comunidades periféricas da cidade como Jardim Piedade, Espinhaço da Gata e Dom Helder apresentam números alarmantes de casos confirmados da doença.
Por Débora Aguiar*
Em sua atualização do dia 14 de maio, o mapa do Seplag-PE informou, baseado em dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde, que o Brasil atingiu a marca de 177.589 casos confirmados de COVID-19, 12.400 óbitos.
Pernambuco está em fase de aceleração descontrolada da doença. O pico da pandemia no Estado, previsto para abril, deve acontecer em maio e junho. Jaboatão dos Guararapes apresenta atualmente uma taxa de 15% de letalidade ao vírus, uma das mais altas da região metropolitana do Recife. Dos pacientes infectados, 824 casos de COVID-19 foram confirmados e 132 pessoas morreram.
Das localidades periféricas no raio de 30 metros do local exato onde estão os pacientes de COVID-19 em quarenta nos bairros: Piedade, Candeias e Barra de Jangada. Se destacam os números de pacientes em quarentena nas periferias de Vila do Espinhaço da Gata no Loreto - com 11 casos confirmados; Jardim Piedade - com 35 casos confirmados; Cajueiro Seco - com 48 casos confirmados e Dom Hélder - com 13. Jaboatão dos Guararapes não possui leitos disponíveis e ainda não apresentou propostas específicas para combate ao COVID-19 em suas periferias.
No sábado (16), Pernambuco inicia o decreto Lockdown em Recife, Jaboatão dos Guararapes, Camaragibe e São Lourenço da Mata e Olinda, cinco das cidades com maiores números de casos de COVID-19. Os números apresentados com base nos dados do Ministério da Saúde evidenciam a falta de estratégias e viabilização de recursos para combater a doença tanto nas periferias do município de Jaboatão dos Guararapes quanto no restante do Estado e no Brasil como um todo.
Jaboatão é apenas uma em meio às diversas cidades nordestinas com periferias em situação de vulnerabilidade social extrema durante a pandemia da COVID-19 em Pernambuco.
Mesmo com os “esforços” do Estado em seguir as instruções da Organização Mundial de Saúde (OMS) apostando no decreto de 11 de maio, com o acordo de “Lockdown” (isolamento total) como medida de prevenção e proteção contra o COVID-19 em Recife e em mais quatro cidades pernambucanas (entre elas Jaboatão dos Guararapes), ainda há vários fatores para a periferia que dificultam o confinamento como a precariedade das condições de vida da população que vive nas periferias (majoritariamente negra), falta de serviços públicos como fornecimento de água diário e coleta de lixo. Assim como os inúmeros discursos de que se deve voltar ao trabalho para não perder o emprego, que o novo coronavírus não é um problema tão grave assim ou que a COVID-19 é apenas uma “gripezinha” reproduzidos pelo atual Governo Brasileiro, não tem contribuído com o acesso à informação e estratégias para reverberar conteúdos de qualidade pelos bairros pobres e periféricos brasileiros.
Com o decreto do Lockdown tememos a ausência do Estado que se só mostra presente diariamente dentro de nossas favelas na falta de água que ocorre do sertão a região metropolitana de Recife, na demora na coleta de lixo a ponto de em cada esquina existir amontoados de lixo, e em muitos locais ela ainda não é realizada.
Sentimos a falta do Estado na ausência de equipamentos públicos de qualidade e na violência genocida que desde sempre tenta matar nossos corpos negros, favelados e originários que ainda hoje é gritante e extremamente naturalizada.
“Não quero tirar o foco
Do Coronavírus
Só que acordei pensando
Aqui comigo
Em tantas mortes que existiram
Por falta de respiro
Não quero tirar o foco
Do coronavírus
Mas aqui temos máquinas que matam mais que isso
Vestem farda, entram em becos
Já matou alguns amigos
E agora tanta gente experimentando isso
Essa falta de respiro
Igual aquele bicho
Eric Garner
Nos Estados Unidos
"Eu não consigo respirar"
Ele gritou no último suspiro
E Pedro Gonzaga?
Extra! Extra!
Sem respirar numa gravata
E quem agora tanta gente morreria
Sem conseguir respirar
Me dói mas vale lembrar
Que mesmo passando a pandemia
Meu povo tem uma garantia
Sempre vai ter pra o nosso corpo
Uma máquina de asfixia.”
Priscila Ferraz**
Nós, do Coletivo Jardim Resistência, em parceria com ativistas de Direitos Humanos, lideranças comunitárias e moradores periféricos que estão na linha de frente não só dos riscos, mas principalmente do combate ao novo coronavírus e suas consequências sociais, solicitamos atenção e destacamos a falta de retorno aos pedidos de apoio feitos por meio de ofícios e denúncias aos gestores públicos realizados em Jaboatão dos Guararapes e no estado de Pernambuco para que possamos continuar viabilizando as ações em nossas comunidades.
( • ) COLETIVO JARDIM RESISTÊNCIA
O Coletivo Jardim Resistência presta assistência à mães das periferias de Jardim Piedade e Vila Espinhaço da Gata, ocupando uma cadeira no secretariado da Associação dos Moradores de Jardim Piedade. Participa da construção do Observatório de Movimentos Sociais de Pernambuco, construindo de forma coletiva e em conjunto com os movimentos e instituições sociais negras e periféricas, ações de comunicação estratégica na favela com bikes de som e grupos em redes sociais (WhatsApp, Instagram e Facebook), monitorando 150 famílias e fornecendo um auxílio básico de alimentos, acompanhados por itens de higiene pessoal e limpeza, dando preferência às famílias cujas mulheres mães são chefes de família e idosos que estão em situação de vulnerabilidade social em 26 comunidades periféricas de Jaboatão dos Guararapes.
Se faz necessário também que tanto a sociedade civil e privada quanto às instituições financiadoras entendam a necessidade de captação de recursos e parcerias que viabilizem nossas ações que, ainda que básicas, são fundamentais para apoiar momentaneamente o sustento dessas famílias, colaborando para que possam, além de alimentá-las, cumprir as orientações de distanciamento social, fundamentais na prevenção ao contágio da COVID-19 durante a pandemia.
( • ) APOIE AS AÇÕES DO COLETIVO JARDIM RESISTÊNCIA
:: Picpay
@debora.aguiar2020
:: Conta Bancária
Caixa Econômica Federal
Agência: 1580
Conta: 013
N° da conta: 00055247-9
Rosileide Cordeiro Barboza
CPF: 045.258.014-50
Aqui deixamos uma relação para contato com outras iniciativas de ativistas periféricas de Direitos Humanos, coletivos e instituições religiosas periféricas que também estão organizando ações em combate a COVID-19 nas periferias da região metropolitana do Recife:
Coletiva Favela LGBTQ+
Biatriz Santos
Ibura mais Cultura
Favelas Camarás
Coletivo de Mães Feministas Ranúsia Alves
Favela News - PE
Sara Rodrigues
Ilê Axé Oxum Bakundê
Tânia Nascimento
Axé Congonhal
Yane Mendes
Wellington Brito
Ingrid Farias
Cicero Lima
Fala Alto
Rede de mulheres negras de Pernambuco
Fruto de Favela
Escola Livre de Redução de Danos
Rede Tumulto
Poetas Marginais de Pernambuco
Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas
Pão e Tinta
( • )
*Débora Aguiar é favelada, fundadora do Coletivo de Mães Feministas Ranusia Alves, Mãe Antiproibicionista e integra o Coletivo Jardim Resistência.
** Priscila Ferraz é criada em Jardim Piedade e atual moradora do Curado I, Zona Oeste, estudante de Psicologia, mãe e Poeta marginal, traz em seus versos temáticas sobre saúde mental, intolerância religiosa e protagonismo da mulher negra periférica.
Foto de Priscilla Melo, residente do Alto do Pascoal - Recife, mulher negra e fotógrafa de onde passa.