ilustração de uma mulher branca, com cabelos loiros, cacheados e compridos de costas, sentada em uma cadeira de rodas com uma mochila vermelha pendurada atrás. a sua volta, sete balões com perguntas capacististas dentro.

PESSOAS COM DEFICIÊNCIA SÃO PESSOAS por Amanda Lyra

A gente quase esquece que todos os  seres humanos precisam de um vocabulário diário de autoajuda pra treinar no espelho e aguentar o tranco. PCDs não são diferentes.

 

O caminho é longo e nas curvas da vida a gente vai deslizando, capengando e tentando se segurar pra não se espatifar - mas às vezes não dá, caímos mesmo.

E percebemos que andamos com um dicionário de ilusões guardado no peito e isso não tem a ver com o fato de se ter uma deficiência - mas por sermos pessoas.

Nos acostumamos a viver em um mundo tão capacitista, que quando nos reconhecemos como um ser humano padrão, outras pessoas se assustam. Isso parece exagero para você?

Perguntas que pessoas SEM DEFICIÊNCIAS recebem de desconhecidos:
Qual é seu nome?
Vem sempre aqui?
Com o que você trabalha?

Perguntas que desconhecidos fazem para PCDs: 
O que aconteceu com você/ o que você tem?

Nasceu assim ou foi acidente?
Tem cura?

Dói?

Depois de respondermos aos interrogatórios com riquezas de detalhes, chegam os comentários: “Se fosse comigo, eu não ia aguentar” ou “Tudo o que você passa na sua vida e ainda consegue sorrir” - como se a nossa vida fosse uma bela merda e tivéssemos, quase que, a obrigação de nos lamentarmos constantemente.

Às vezes, a gente quase esquece que todos os  seres humanos precisam de um vocabulário diário de autoajuda pra treinar no espelho e aguentar o tranco. PCDs não são diferentes.

Perceba que eu também preciso fazer com que meu cérebro não rejeite esse corpo - recorrentemente. E esse não é, justamente, o drama de todas as pessoas?

Seja pela aparência, que nunca está satisfatoriamente no padrão ou seja pela limitação causada pelo envelhecimento natural, que chega para todos aqueles que não morrem jovem, no auge de sua forma física.

Eu tento assimilar diariamente o porquê de pessoas com deficiências ainda serem um tabu em pleno 2021. 

Por que somos motivo de uma curiosidade sem fim - que ultrapassa os limites do bom senso e não se preocupa em usar um tom de voz com o mínimo de respeito?

E por que é tão agressivo olhar para um corpo torto e cheio de cicatrizes? Por que é tão subversivo amar um corpo com deficiência?

Até quando pessoas com deficiências serão  usadas para personificar a “superação”?

Até quando mulheres com deficiências terão sua sexualidade anulada e sua sensualidade cancelada?

E até quando as imagens dos nossos corpos, simplesmente existindo, estarão atrelados à velha frase: "E qual é a sua desculpa”?

São muitas perguntas, né?

Pois é. É exaustivo ter que responder, repensar e resolver todas as questões que outras pessoas se sentem à vontade para  levantar sobre nossos corpos, deficiências e vivências. E nem vou entrar na parte dos questionamentos pessoais, onde nossos relacionamentos são colocados em dúvida e nossos parceiros  sempre são MAIS incríveis que nós (nunca TÃO legais quanto nós) e devemos agradecer de joelhos por encontrar alguém que “enfrente essa barra”.

A reflexão de hoje é: não pense de um jeito capacitista, não haja como capacitista e, principalmente, lute contra o capacitismo!

Pessoas com deficiências ainda estão lá no final da fila das pautas de diversidade, mas a gente tá lutando e não vamos parar.

Sigamos ocupando os espaços, gritando mais alto e espalhando por aí que antes de qualquer deficiência, existe uma pessoa!

 

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Amanda Lyra é cantora, compositora, produtora e apresentadora, cadeirante e idealizadora do Projeto Solyra. Siga ela no FACEBOOK e INSTAGRAM.

ilustração colorida de uma mulher negra, de cabelos enrolados, avermelhados, médios, com blusa de alcinha preta e tatuagem no braço.
Paloma Santos
é ilustradora, cadeirante e feminista. "No meu trabalho como ilustradora tento representar a diversidade feminina".
 

 

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