imagem rosa de três notas de um dólar enroladas, com um fio embaixo, simulando um absorvente internto.

POBREZA MENSTRUAL E A LUTA POR IGUALDADE por Adriana Rebicki

"Se menstruar é algo tão natural e comum, porque os absorventes ainda são considerados produtos de beleza? Como é viver numa sociedade onde uma necessidade básica é tratada como luxo?"

 

Por mais que seja natural, normal, comum e corriqueiro, ainda existem muitos mitos que cercam o assunto menstruação.

Atualmente no Brasil, 4 em cada 10 meninas deixam de ir à escola por causa da menarca/menstruação. Isso se deve por vários motivos. Alguns deles são a falta de informação e educação sexual que geram dúvida, medo e vergonha.

Há também as mulheres que por diversos motivos, não tem acesso a produtos adequados para gerir seus períodos com segurança e acabam utilizando sacolas plásticas, papel, jornal ou mesmo miolo de pão para estancar o sangue menstrual, o que causa sérias doenças, se tornando também uma questão de saúde pública.

Mas você pode estar pensando o que isso tem a ver com você, que sempre teve condições e opções à mão. Pois é, somos parte de um todo, se uma de nós sofre, todas sofremos.

A pobreza menstrual não está ligada apenas a parte física desse contexto, mas também e essencialmente aos tabus, ao autoconhecimento, a identidade sexual, a saúde mental, a autogestão das emoções, alimentação saudável, saneamento básico.... Ou seja, é muito maior do que parece.

Menstruar é um processo natural, fisiológico e cíclico. Todas as pessoas que tem um útero, geralmente menstruam. Ainda assim, em nossa economia, os produtos de higiene menstrual são taxados como "cosméticos". Agora, se menstruar é algo tão natural e comum, porque os absorventes ainda são considerados produtos de beleza? Como é viver numa sociedade onde uma necessidade básica é tratada como luxo?

Quando falamos disso há um espanto em todos os olhares, mas sim, algo que deveria estar disponível nos postos de saúde, ou nas escolas públicas ou mesmo em qualquer instituição ou prédio público, é encarado e comparado a um creme hidratante para celulite ou um batom.

E O QUE A GENTE FAZ PRA RESOLVER ISSO?

O problema da pobreza menstrual só poderá ser resolvido quando houver políticas públicas que garantam o DIREITO DE MENSTRUAR com saúde, com itens de higiene da sua escolha, sustentáveis (se possível), com um banheiro limpo, com privacidade e segurança, sem tabus, sem incertezas e sem ignorância.

O primeiro passo para começar a consertar essa estrutura falha é falar sobre o assunto. Educação é a chave para acabar com todo tipo de desinformação. Conhecendo mais, estudando, criando uma corrente de informações verdadeiras e desmistificando tabus, eu diria que grande parte do caminho foi andado, porque conhecimento é poder e autoconhecimento é liberdade.

Um segundo passo seria garantir que o Estado torne acessíveis os produtos menstruais reduzindo impostos, distribuindo gratuitamente através de programas sociais, nas escolas, unidades de saúde e em todos os prédios públicos. Pensando em tudo isso, criamos dois projetos de lei a nível estadual e municipal onde apresentamos estas propostas ao poder público. Agora é esperar que eles façam a sua parte.

E por fim (se é que há fim nessa luta por igualdade) cada uma de nós tem que fazer o que pode, seja dividindo experiência e conhecimentos, seja fazendo doações aos projetos que já existem, ou então trabalhando com as lideranças das comunidades e até dos municípios para cocriar políticas públicas que atendam às necessidades reais da cidade. Não espere do estado, apenas faça. Essa luta é nossa, é de todo mundo, e o que a gente quer é liberdade, ser quem queremos, ir onde queremos, sangrar sem vergonha ou medo, sem adoecer, sem poluir, sem que nos impeça em nada.

Essa luta está só no começo!

 

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foto colorida da Drika, mulher, branca, com cabelo enrolado, castanho avermelhado. Está de peita preta com a frase lute como uma mãe em branco e uma saia longa mostarda. Está sentada de lado, braço esquerdo apoiado no encosto da cadeira de madeira, mão logo abaixo do queixo. Ao fundo um líria em cima de um banquinho algo.
Adriana Rebicki é fotógrafa, artista, mãe e idealizadora do projeto Igualdade Menstrual

Arte Lauren Ahn na Cosmopolitan.

 

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