28 de setembro de 2018 | poema de Jenyffer Nascimento

28 de setembro de 2018 | poema de Jenyffer Nascimento

 

hermana, preciso desabafar estou inquieta os dias estão passando rápidos demais e as velhas táticas no amor e na guerra já não servem mais e nós o que faremos daqui em diante?
quantas chances teremos de nos demorar em um abraço e brindar os ipês amarelos florescendo do outro lado da rua?
nossos caminhos entrecruzados miravam a mesma direção
eu já falei tinha umas histórias que minha avó contava mas eu era muito pequena não consigo recordar direito (...)
aquela da comadre florzinha na mata aquela da mulher que foge no cavalo aquela do fio vermelho invísivel interligando todas as cabeças (...)
minha abuela na sua máquina de costura translocava a órbita do mundo
hermana, você me entende?
tentaram colonizar o sol ofereceram-lhe zilhões de dólares para que não brilhasse mais como vamos enfrentar a bárbarie? temos que (re)aprender a ouvir as anciãs e colocar nossas vibrações vagino-cardíacas em sintonia pulsante
não se preocupe enquanto minhas mãos suportarem vou construindo barricadas vou construindo mas para isso preciso da sua existência-girassol-ensolarada pra suportar essa luta
a medida de grandeza para mensurar o amor é aquela mesma sensação sentida no alto da montanha - vastidão menos que isso é pedra no caminho e se no meio do caminho tinha, desvia.
hermana, desculpa o desabafo assim meio torto já passa das onze meus pés estão latejando esse clima eleitoreiro frita meus miolos não sou uma eleitora sou uma incendiária #elenão #elenunca
uma mulher me parou na rua perguntou se eu estava bem eu disse que sim ela sabia meu nome eu não saiba o nome dela ela era velha e disse pra eu me cuidar eu apenas agradeci ela foi embora eu fiquei olhando achei um tanto enigmático
talvez eu devesse fazer terapia mas prefiro nesse momento da vida lutar boxe estudar inglês e ousar poemas sem rimas
vai saber quantas chances teremos de nos demorar em um abraço e brindar os ipês amarelos florescendo do outro lado da rua?
hermana, sólo necesito decir que te amo ahora.

 

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Jenyffer Nascimento é mulher negra periférica, escritora, mãe, estudante, educadora, boêmia, raiz, ventania e liberdade. É autora de Terra fértil (Editora Mjiba, 2014).

 

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