ilustração colorida de duas mulheres, uma negra e outra branca, uma sentada em uma cadeira de rodas e outras dando de comer. Ao fundo uma pia cheia de louça suja.

PRECISAMOS FALAR DA POLÍTICA DO CUIDADO PARA AVANÇARMOS NA LUTA por Carol Constantino

Hoje, o cuidado dos filhos e adultos com deficiência é visto como uma obrigação da família. Ou seja, o Estado tira a responsabilidade sobre ele e deixa com que as famílias assumam todas necessidades pelo cuidado de seus membros. Há quem concorde com isso, mas devemos ter consciência que o cuidado não envolve apenas o cuidado “dentro de casa”, ele também diz respeito à saúde, educação, transporte, entre outros.

 

Nas últimas semanas uma das notícias que ganhou destaque foi a Argentina reconhecer o cuidado materno como um trabalho a ser contado para a aposentadoria. Um grande avanço que beneficiará muitas mães que dedicam parte de suas vidas ao cuidado dos filhos. 

Porém, não pretendo falar especificamente desse acontecimento, pois quero chamar a atenção para outro tipo de cuidado: o cuidado das pessoas com deficiência.

Por mais que pareça um assunto inédito, teóricas feministas trouxeram à tona esse tema nos anos 90 e, de forma resumida, elas mencionaram a importância do cuidado ao reconhecê-lo como um direito daqueles que são cuidados, bem como colocando a figura da cuidadora no centro do debate sobre justiça e deficiência.

Hoje, o cuidado dos filhos e adultos com deficiência é visto como uma obrigação da família. Ou seja, o Estado tira a responsabilidade sobre ele e deixa com que as famílias assumam todas necessidades pelo cuidado de seus membros. Há quem concorde com isso, mas devemos ter consciência que o cuidado não envolve apenas o cuidado “dentro de casa”, ele também diz respeito à saúde, educação, transporte, entre outros.

Pesquisas apontam que a maioria das pessoas com deficiência encontram-se na linha da pobreza, marginalizadas, sem acesso aos direitos básicos. E como esses indivíduos vão ter uma cuidadora sem ter condições financeiras? Atribuindo à mãe, ou qualquer outra mulher da família, o papel de cuidar de forma não remunerada.

Ainda hoje o cuidado é considerado um valor feminino e, por isso, pouco valorizado. São as mulheres que ficam em casa, deixam de lado suas carreiras, enquanto os homens continuam trabalhando ou simplesmente abandonam suas famílias deixando-as totalmente desamparadas. São mulheres que nunca vão conseguir se aposentar, que se esgotam fisicamente e psicologicamente por, geralmente, não ter nenhuma rede de apoio. Sabe qual é o maior medo das mães cuidadoras? Quem irá cuidar de seus filhos depois que elas morrerem, pois não existe nenhum amparo para essas mulheres e muito menos para as pessoas com deficiência.

Essa discussão também é de extrema importância para aquelas pessoas com deficiência que são cuidadas, pois, elas são mais vulneráveis a sofrer violência física, emocional e sexual por se encontrarem em situações de estresse e também por não terem autonomia financeira para escolherem e pagarem por uma(o) cuidadora(o). Não é à toa que 40% a 68% das meninas e mulheres com deficiência sofrerão violência sexual antes do 18 anos de idade, e 16% a 30% dos meninos e homens também (MSH; UNFPA, 2016; UNFPA, 2018).

Por isso, precisamos lutar por uma política pública de cuidado, a fim de não só valorizar o trabalho das cuidadoras, como a Argentina fez, mas também minimizar a vulnerabilidade à violência praticada àqueles que são cuidados. Para isso, é necessário que todos analisem as propostas de seus candidatos e votem consciente para não cairmos em mãos de políticos genocidas novamente.

 

( • ) 

Foto da Carol, mulher branca, com cabelos compridos, lisos, avermelhados, presos com um lenço preto. Está usando uma peita preta com a frase corra como uma garota em branco, calça e tênis também pretos e um casaco amarelo. Está sentada em uma cadeira de rodas.

Carolini Constantino é assistente social, pesquisadora, feminista e mulher com deficiência. É coordenadora de projetos no Coletivo Feminista Helen Keller de Mulheres com Deficiência.

ilustração colorida de uma mulher negra, de cabelos enrolados, avermelhados, médios, com blusa de alcinha preta e tatuagem no braço.
Paloma Santos
é ilustradora, cadeirante e feminista. "No meu trabalho como ilustradora tento representar a diversidade feminina".

 

( • ) 
peita.me
@putapeita
/putapeita

Voltar para o blog

Deixe um comentário

Os comentários precisam ser aprovados antes da publicação.

Siga @putapeita