"Rima Dela"  incentiva e alavanca minas do hip hop

"Rima Dela" incentiva e alavanca minas do hip hop

Ano passado a publicitária e produtora Becca Villaça entrou em contato com a PEITA com a proposta de um colab para divulgar o Rima Dela, projeto do Soul Di Rua que dá visibilidade às mulheres no hip hop. O canal do youtube está recheado de entrevistas com novos e velhos nomes da rima, videoclipes e cyphers. Conversamos com ela para saber melhor sobre o canal, iniciativas e machismo no rap. 


( • ) Como surgiu o Rima Dela?

BV - Eu comecei a me envolver de forma indireta com o rap da minha cidade (Recife) há uns dez anos, apenas como ouvinte e telespectadora nas batalhas e rodas de freestyle. Depois comecei a colar nos eventos de break, grafitti e conhecer de fato o movimento Hip Hop. Reparei que a presença dos homens era predominante em todas as vertentes. Aí eu criei a ''Soul Di Rua'', um coletivo de comunicação formado apenas por mulheres, com o intuito de divulgar a cena local. Fazíamos fotografia, vídeos, matérias, produção de eventos e não nos sentíamos representadas, muito menos valorizada. Isso me deixava triste e por isso criei o Rima Dela, um programa de entrevistas que lancei em um dos maiores sites de rap do país, o RND. O Rima Dela é um espaço onde as mulheres podem falar abertamente sobre suas vivências dentro da cultura, suas dificuldades, divulgar seu trabalho e onde podem fazer o que mais gostavam, rimar.

Camiseta Rime como uma garota da puta peita
Bia Doxum, Sara Donato e Brisa Flow participaram da Cypher #1.

( • ) Por que as cyphers são importantes para as manas do rap? 

BV - As cyphers tiveram uma repercussão muito grande em 2017, na verdade, o uso desse formato, porque o termo existe na história do Hip Hop há anos. Poder reunir várias Mc's numa única faixa, rimando em cima do mesmo Beat, é um outdoor. Se tem uma mina conhecida fazendo parte, isso vai chamar a atenção do público pra conhecer as demais que também estão participando. Foi isso que aconteceu com o Rima Dela, a gente fez questão de chamar nomes que estavam no hype, com uma visibilidade maior e lançar minas que já estavam no corre há muito tempo e não tinham visibilidade. Deu muito certo.

( • ) Como é o processo de produção da letra e beats?

BV - Isso é com as compositoras. Cada uma tem um processo de criação diferente. A única coisa que sugerimos foi o tema: tocar na ferida, abordar a situação trágica e política que estamos vivendo. Quanto a produção do beat, isso também varia muito. Primeiro elas escolhem o instrumental e, depois, criam a letra. A gente geralmente disponibiliza quatro opções de beat, que varia de trap ao boombap e dentro deles conseguimos acrescentar outras sonoridades, caso seja necessário.

( • ) Como ajuda as mulheres envolvidas?

BV - Acho que é uma oportunidade de poder mostrar o trabalho delas. A desigualdade nos line ups é muito grande. Falta visibilidade e confiança de se trabalhar com mulheres dentro do rap. Quando nos unimos na intenção de subir o corre delas, estamos ajudando elas, a nós e mais um bolo de mulheres que se sentem representadas quando ouvem a cypher e nos mandam comentários fortalecedores. Aí a gente tem certeza que estamos no caminho certo.

camiseta rime como uma garota - mel duarteMel Duarte e Bianca Hoffmann fazem parte do Cypher. 

( • ) Como é para as mulheres entrarem, como são vistas?

BV - Como tudo na vida de uma mulher, complicado. O preconceito nunca vai deixar de existir. As minas até hoje são atacadas e xingadas nas batalhas de freestyle. Apanham de namorados Mc's que escrevem letras de amor, mas em casa abusam psicologicamente e fisicamente das companheiras. Nos eventos, a quantidade de artistas mulheres ainda é menor que homens, o valor de cachê oferecido não é o mesmo. É brochante. Mas em compensação, as minas estão entrando com os dois pés na porta, sabe?! Sem alisar, trabalhando mais, colocando muita coisa na rua, metendo as caras, questionando, reivindicando e isso é maravilhoso. É uma luta diária, as minas vão deixar um legado incrível, aliás, já estamos deixando.

( • ) O rap é super feminista enfia o dedo na ferida dos machistas, como é quando rola evento entre homens e mulheres?

BV - Eu acredito que o rap é completamente machista, mas a luta feminista dentro dele, tem tomando uma proporção maior a cada dia. Ainda existe aquele cara que não aceita uma mulher sendo a artista principal, não aceita abrir show pra mulher, na produção não gosta de receber ordem de uma mulher. O público do rap é bem escroto, mimado e guardinha. Eles ainda não entenderam que todo esse nosso sofrimento, não é à toa. A gente vem crescendo, se fortalecendo e a ideia é dominar tudo. Pegar o que é nosso por direito. 

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Fotos por Karú Martins


Ouça a playlist exclusiva “Rime como uma garota” da Becca Villaça no Spotify da #putapeita:

 

 

 

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