( • ) Como surgiu o Rima Dela?
Bia Doxum, Sara Donato e Brisa Flow participaram da Cypher #1.
( • ) Por que as cyphers são importantes para as manas do rap?
BV - As cyphers tiveram uma repercussão muito grande em 2017, na verdade, o uso desse formato, porque o termo existe na história do Hip Hop há anos. Poder reunir várias Mc's numa única faixa, rimando em cima do mesmo Beat, é um outdoor. Se tem uma mina conhecida fazendo parte, isso vai chamar a atenção do público pra conhecer as demais que também estão participando. Foi isso que aconteceu com o Rima Dela, a gente fez questão de chamar nomes que estavam no hype, com uma visibilidade maior e lançar minas que já estavam no corre há muito tempo e não tinham visibilidade. Deu muito certo.
( • ) Como é o processo de produção da letra e beats?
BV - Isso é com as compositoras. Cada uma tem um processo de criação diferente. A única coisa que sugerimos foi o tema: tocar na ferida, abordar a situação trágica e política que estamos vivendo. Quanto a produção do beat, isso também varia muito. Primeiro elas escolhem o instrumental e, depois, criam a letra. A gente geralmente disponibiliza quatro opções de beat, que varia de trap ao boombap e dentro deles conseguimos acrescentar outras sonoridades, caso seja necessário.
( • ) Como ajuda as mulheres envolvidas?
BV - Acho que é uma oportunidade de poder mostrar o trabalho delas. A desigualdade nos line ups é muito grande. Falta visibilidade e confiança de se trabalhar com mulheres dentro do rap. Quando nos unimos na intenção de subir o corre delas, estamos ajudando elas, a nós e mais um bolo de mulheres que se sentem representadas quando ouvem a cypher e nos mandam comentários fortalecedores. Aí a gente tem certeza que estamos no caminho certo.
Mel Duarte e Bianca Hoffmann fazem parte do Cypher.
( • ) Como é para as mulheres entrarem, como são vistas?
BV - Como tudo na vida de uma mulher, complicado. O preconceito nunca vai deixar de existir. As minas até hoje são atacadas e xingadas nas batalhas de freestyle. Apanham de namorados Mc's que escrevem letras de amor, mas em casa abusam psicologicamente e fisicamente das companheiras. Nos eventos, a quantidade de artistas mulheres ainda é menor que homens, o valor de cachê oferecido não é o mesmo. É brochante. Mas em compensação, as minas estão entrando com os dois pés na porta, sabe?! Sem alisar, trabalhando mais, colocando muita coisa na rua, metendo as caras, questionando, reivindicando e isso é maravilhoso. É uma luta diária, as minas vão deixar um legado incrível, aliás, já estamos deixando.
( • ) O rap é super feminista enfia o dedo na ferida dos machistas, como é quando rola evento entre homens e mulheres?
BV - Eu acredito que o rap é completamente machista, mas a luta feminista dentro dele, tem tomando uma proporção maior a cada dia. Ainda existe aquele cara que não aceita uma mulher sendo a artista principal, não aceita abrir show pra mulher, na produção não gosta de receber ordem de uma mulher. O público do rap é bem escroto, mimado e guardinha. Eles ainda não entenderam que todo esse nosso sofrimento, não é à toa. A gente vem crescendo, se fortalecendo e a ideia é dominar tudo. Pegar o que é nosso por direito.
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Fotos por Karú Martins
Ouça a playlist exclusiva “Rime como uma garota” da Becca Villaça no Spotify da #putapeita: