"Ter o apoio da torcida é realmente uma motivação." | Entrevista com a goleira Aline Reis

"Ter o apoio da torcida é realmente uma motivação." | Entrevista com a goleira Aline Reis

Aline Reis, goleira da seleção brasileira, estará representando a gente na Copa do Mundo 2019 na França. Os jogos começam dia 7 de junho, às 16h, horário de Brasília. O Brasil estreia no domingo, dia 9, às 10h30, contra a Jamaica.

Temos a honra de tê-la como embaixadora da campanha #JogueComoUmaGarota, onde mobilizamos 21 cidades do país, em 13 Estados + DF. Quer dizer, nós, com a ajuda de mulheres incríveis que estão realizando a transmissão ao vivo dos jogos do Brasil. Todos os bares oficiais da #CopadoMundo2019 são geridos por mulheres, mas geral pode ir torcer pela seleção.

Conversamos com a Aline para saber mais sobre a sua vida, dificuldades e alegrias que o futebol a proporcionam.

aline reis

( • ) Como foi sua trajetória no futebol, desde que resolveu ser jogadora profissional até disputar a Copa do Mundo em 2019?

ALINE: Como a maioria das jogadoras no Brasil, comecei a jogar futebol com os meninos. Era na rua, nas quadras da vizinhança, com os amigos do prédio, até que ouvi dizer que o Guarani FC tinha um time feminino. Jogar com os garotos era divertido demais, embora tivesse que aguentar brincadeiras machistas de alguns engraçadinhos. Mas quando, com 12 anos, passei no teste do Guarani e pela primeira vez fiz parte de uma equipe feminina, fiquei maravilhada com aquela oportunidade. Era um ambiente diferente do que eu até então tinha vivenciado. Ali ninguém tirava sarro de ninguém por ser menina e jogar futebol. Estávamos todas no mesmo barco, unidas por uma paixão. Amava o ambiente! A gente se divertia, se apoiava e se cobrava também! Todas em buscas dos mesmos sonhos! Cresci nesse clube. Fiquei dos 12 aos 18. Sem me dar conta, me empoderava a cada dia que passava.

Do Guarani fui direto pros Estados Unidos. Recebi uma bolsa de estudos na University of Central Florida pra jogar e estudar. Fui muito feliz nessa equipe, conquistei títulos, ganhei prêmios e me tornei mulher. Nos 10 anos que passei lá aprendi ainda mais sobre a importância da luta das mulheres por direitos iguais. Os Estados Unidos são verdadeiros pioneiros nessa luta. Nunca me senti tão valorizada como lá.

Após o término da faculdade, joguei uma temporada profissional na Finlândia, mas aí surgiu a oportunidade de cursar o mestrado e me tornar treinadora de goleiros. Naquele momento me parecia o mais certo a ser feito. Segui meu coração e mergulhei no novo desafio. Após quatro temporadas como técnica, percebi que tinha aposentado as luvas antes da hora. Foi então que tomei a decisão de voltar a jogar e vim para o Brasil em 2016, onde disputei o Campeonato Brasileiro e Paulista pela Ferroviária e recebi uma nova oportunidade na Seleção Brasileira, que venho servindo desde então. Atualmente jogo na Liga Iberdrola, primeira divisão espanhola.

De todas essas idas e vindas, o que mais me marca é o apoio incondicional da minha família, especialmente minha mãe. Desde os 12 até agora, foram muitas as dificuldades, incertezas e desafios, mas nunca me faltou apoio e muito amor das pessoas próximas à mim. O apoio dentro de casa é fundamental! Minha mãe sempre foi uma guerreira, mostrando uma força impressionante. Nos Estados Unidos tive duas mentoras mulheres que me apoiavam muito e dentro de casa tenho minha parceira de vida, que me incentivou a continuar a carreira como jogadora e me ajuda dia após dia a alcançar os meus objetivos.


( • ) Quais as principais dificuldades que as mulheres encontram na profissão de jogadora?

Embora o futebol feminino Brasileiro tenha tradição e uma história de ótimos desempenhos em competições mundiais, nossa modalidade ainda sofre muito no Brasil. Ao meu ver, o maior problema é a falta de investimento, o que resulta em falta de estruturas nos clubes e uma dificuldade financeira para a maior parte das jogadoras. Além disso, o futebol feminino ainda é muito carente de visibilidade. O que dificulta o crescimento da modalidade. A visibilidade pode nos ajudar a combater outras duas dificuldades que as mulheres encontram: preconceito e o machismo.

( • ) Você joga pelo Brasil desde 2016, como foi a sensação de ser convocada pela primeira vez, de estar em um estádio vestindo a camiseta da seleção?

ALINE: Minha primeira convocação para a Seleção Brasileira principal foi em 2009, com 20 anos. Vestir a camisa da sua seleção é o sonho de toda jogadora. É o maior reconhecimento do seu trabalho. Foi assim que me senti. Um sonho realizado e um sentimento de recompensa por toda a dedicação do dia a dia.

Em 2016 tive a oportunidade de jogar nas Olimpíadas, em Manaus, com mais de 40 mil espectadores, a maioria brasileiros. Foi um momento marcante na minha vida!

( • ) Como está a sua expectativa para a Copa do Mundo, frente aos resultados dos últimos meses e a trajetória da seleção em copas?

A nossa preparação para essa Copa do Mundo foi muito turbulenta. Perdemos algumas peças essenciais devido a lesões, tivemos altos e baixos e recebemos muitas críticas. Mas mar calmo não faz um bom marinheiro. De uma coisa eu tenho certeza, todas as mulheres que escolhem o futebol feminino são lutadoras desde que começam a jogar. Nossa seleção é um reflexo disso. Guerreiras que lutaram muito e superaram muitas coisas para chegar onde estão. Por isso o Brasil sempre surpreende. Nossa palavra é superação.

( • ) Pela primeira vez na história, a Copa do Mundo de Futebol Feminino será transmitida por um canal de tv aberto. Como é saber que mais pessoas terão acesso ao jogo e irão torcer por vocês?

Gratificante. Pela primeira vez uma competição de futebol feminino será transmitida em tv aberta. Essa visibilidade é um grande passo para a modalidade. Nas olimpíadas, a mídia foi essencial para nós. Tivemos um apoio de emocionar. O brasileiro conheceu um pouco mais do futebol feminino e se apaixonou. A minha expectativa é que esse impacto seja ainda maior durante a Copa do Mundo.

( • ) Por que a torcida é importante para o time?

Ter o apoio da torcida é realmente uma motivação. Nos faz entender ainda mais a responsabilidade que temos de representar uma nação inteira. Sinto-me ainda mais orgulhosa de representar o Brasil e fazer do esporte essa plataforma para influenciar pessoas a lutar pelos seus sonhos e a entender a importância do esporte feminino.


( • ) Por que as pessoas devem parar pra assistir aos jogos do Brasil?

A visibilidade do nosso trabalho e do futebol feminino ajuda a desconstruir preconceitos. Queremos mostrar para todo o Brasil a verdadeira cara do futebol feminino brasileiro, baseado na paixão pelo futebol, na superação das dificuldades e na idéia de que somos livres e fortes para viver nossos sonhos.

O futebol é a maior paixão nacional, e independente de feminino ou masculino, esperamos contar com o apoio das brasileiras e brasileiros.

( • ) O que é jogar como uma garota pra você?

Jogar como uma garota é ter coragem. Coragem de superar preconceitos e desafiar uma sociedade que ainda impõe muitos limites as mulheres. Coragem de fazer escolhas e tomar as próprias decisões, mesmo que elas fujam do padrão do que geralmente é esperado de nós. Jogar como uma garota é lutar como minoria, mesmo quando somos a maioria. Jogar como uma garota é ser livre para traçar nosso próprio destino, seja ele qual for.

( • )
www.peita.me

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3 comentários

Parabéns aline,acompanhei você treinadora no campinas f.c com goleiro daniel,sempre atenta e dedicada,você fala uma excelente copa do mundo.

Robson rainato

Que orgulho dessa menina! Orgulho de todas as mulheres que buscam
Seu espaço e escolhem o que querem
Ser! Obrigada, guerreiras o puta peita.

Naara Villares

Aline você é uma inspiração, vou torcer muito para os jogos de vocês!

Jordana

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